A Lobo &
Associados tem realizado, nesses últimos dois anos, diversas pesquisas,
das quais já participaram mais de 160 Instituições
de Ensino Superior (IES) de todo o País, sobre temas importantes
que impactam o cotidiano dos dirigentes, voltados a esse setor bastante
complexo.
A "Pesquisa Nacional sobre Gestão dos Sistemas de Informação
e suas Tecnologias para Aprimoramento das IES", realizada no final
do semestre passado, reúne informações de 32 IES,
cujo resumo do conteúdo é apresentado pelos professores
Roberto Leal Lobo e Maria Beatriz Lobo, sócios-diretores da Consultoria
nesta entrevista ao Terceiro Grau:
Terceiro
Grau: Quais razões motivaram essa pesquisa?
Professora Maria Beatriz: As mesmas que motivaram a realização
do evento de mesmo nome, no final de maio: atender à necessidade
de trazer conteúdos e experiências sobre Tecnologia da Informação
e ampliar a visão estratégica do dirigente universitário,
que precisa dominar um conhecimento geral sobre o assunto, com o enfoque
da gestão institucional da área de TI, voltado especificamente
às IES. Para isso, nada melhor do que levantar o estado da arte
nessas instituições, trabalhar dados reais, com a organização
de indicadores que possam auxiliar os gestores a ganhar vantagem competitiva.
TG: Esse
tema não é muito técnico, até árido,
para quem não é da área?
Professor Roberto Lobo: Pode parecer, mas é fundamental que
o gestor conheça as principais políticas, os problemas e
as soluções sobre a área, caso contrário,
fica até difícil argumentar, ou, então, cai nas mãos
de técnicos que só falam o "computês", que
é uma linguagem que só eles entendem, cheia de siglas. Sabendo
disso, buscamos o apoio do professor Paulo César Masiero, titular
do Departamento de Computação e Estatística do ICMC/USP
e presidente da Comissão Central de Informática da USP,
que foi coordenador técnico da pesquisa e do evento. É claro
que nossa experiência, como gestores que não são da
área, mas que atuaram gerindo o uso da TI, e a do Masiero, que
trabalha e nos ajuda na consultoria para as IES, foram a base para direcionar
as perguntas e a utilidade da análise.
TG: Como
estão as IES em relação à TI? Há muitas
discrepâncias? Estão bem organizadas?
Maria Beatriz: A pesquisa demonstrou que há diferenças
entre os estágios de desenvolvimento das IES em relação
à TI, até porque existem grandes diferenças de porte
entre as IES brasileiras. Mas a pesquisa mostrou que alguns indicadores
são utilizáveis para o conjunto, porque se mantêm
coerentes mesmo com diversos tamanhos ou diferentes dependências
administrativas das IES, como a distribuição de micros entre
as áreas acadêmicas e administrativas, o número de
computadores por aluno (que gira em torno de onze alunos de Graduação
por micro, resultado excelente quando se sabe que foram adquiridos praticamente
com recursos de mensalidades), ou mesmo número de funcionários
de TI, que, depois de certo número mínimo para começar
qualquer IES, passa a aumentar de forma proporcional ao número
de alunos.
TG: Quais
políticas mais comuns, em relação aos equipamentos
e ao atendimento dos alunos, foram encontradas na pesquisa?
Roberto Lobo: Percebemos que o Brasil, mais ainda no setor privado,
quase não pratica o repasse de acordos com fornecedores de hardware
e software e não indica marcas, deixando de usufruir as vantagens
financeiras das parcerias com empresas. Também não é
comum a cobrança de taxas de alunos pelo uso de informática,
nem uma política de padronização de compra e de substituição
de equipamentos. Praticamente ninguém exige que o aluno tenha computador,
o que é fácil de entender diante de seu poder aquisitivo,
mas muitas IES ainda não oferecem cursos na área para todos
os estudantes, apesar da importância de formar profissionais que
dominem, minimamente, essa tecnologia.
TG: A
pesquisa entrou em detalhes técnicos como marcas, uso de equipamentos
e orçamentos?
Roberto Lobo: Não só a pesquisa como a enquete que fizemos
no evento, cujo resultado também está no CD-ROM, contêm
as marcas mais compradas e o percentual de uso nas IES. Cabe destacar
o avanço do software livre nas IES com maior incidência que
nas empresas, a primazia ainda da arquitetura cliente-servidor com uma
migração mais lenta para a arquitetura web, um uso da interface
web praticamente como um ponto estático, com pouca interação/serviços
e mais informações para os alunos. A informática
acadêmica e administrativa, os sistemas operacionais, a infra-estrutura,
o número de funcionários, inclusive por função
de TI, e até aspectos ligados à segurança também
foram abordados.
Maria Beatriz: Em relação às questões financeiras
de TI, repetiu-se o fato de que poucas IES fazem um controle real de gastos,
sendo que a maioria não tem orçamento especificado e mal
organiza gerencialmente essas informações. Também
a falta de programas de treinamento, que nessa área são
ainda mais fundamentais, foi uma constante, como em outras pesquisas sobre
outros temas.
Roberto Lobo: Para ilustrar, 79,5 % dos gestores de TI das IES
consultadas, a maioria privadas, acreditam que o orçamento para
essa área específica aumentará em 2005, mesmo com
a crise de demanda e a inadimplência que parte do setor está
passando. Como normalmente a maioria desse incremento será usado
para atacar os principais problemas existentes, é possível
que o gasto maior fique com o aprimoramento ou a implantação
dos Sistemas de Informações Gerenciais (SIG) e/ou substituição/melhoria
dos Sistemas Corporativos (ERP), já que ambos dividem, com 39,5%
de incidência, o topo das preocupações dos dirigentes
de TI dessas instituições. Nos EUA, o suporte ao usuário
e o uso de TI no ensino são as prioridades atuais. Vimos claramente,
na consulta que fizemos, que o ensino a distância nas IES brasileiras
está quase restrito a algumas disciplinas e cursos curtos.
TG: As
IES brasileiras gastam mais ou menos do que as de outros países?
Roberto Lobo: Dados da L&A e da análise da pesquisa demonstram
que o gasto com TI (incluindo pessoal, custeio e capital) é 3,17%
do orçamento de despesas das IES privadas brasileiras. Estima-se
um investimento/gasto anual em TI no setor em 2004 da ordem de 500 milhões
de reais. Nas IES privadas americanas, são gastos 5,8% do orçamento,
mas lá é orçamento global, incluindo todas as receitas.
TG: As
IES estão satisfeitas com o próprio desempenho nessa área?
Maria Beatriz: É incrível a sinceridade dos respondentes,
seja da pesquisa, seja dos que vieram ao nosso evento, pois lá
isso foi tratado com a maior transparência. No geral, o grau de
satisfação das IES é baixo. Numa escala de 0 a 10,
a maior nota foi 6,75, dada para o item de suporte a dúvidas do
usuário. Os pontos mais críticos são as ferramentas
de medição de produtividade e os problemas com os Sistemas
de Informações Gerenciais. Aí, as IES não
falam só dos sistemas, mas da dificuldade de monitorar dados, informações
e estatísticas, da falta de indicadores. Foi por isso, também,
que a Lobo & Associados criou o SIGAMES, Serviço de Informações
Gerenciais para Acompanhamento de Macroindicadores do Ensino Superior.
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