A Lobo
& Associados tem realizado, nesses últimos dois anos,
diversas pesquisas das quais já participaram mais de 114
Instituições de Ensino Superior (IES) de todo o País,
representando 218 questionários sobre temas importantes que
impactam o cotidiano dos dirigentes, voltados a esse setor bastante
complexo:
1. Inadimplência nas IES Privadas e suas Correlações”
Maio de 2002
2. Políticas de Gestão do Corpo
Docente das IES Privadas” Junho de 2003
3. Políticas de Gestão Administrativo-Financeira
das IES Privadas” Dezembro de 2003
4. A Gestão dos Sistemas de Informação
e suas Tecnologias para Aprimoramento das IES - Maio de 2004
Como
essas pesquisas apresentaram dados numéricos que se desatualizaram,
a Lobo & Associados desenvolveu de agosto a novembro de 2004,
a fase de ATUALIZAÇÃO DOS DADOS, visando o aperfeiçoamento
do sistema de informações do conjunto das 3 primeiras
pesquisas. Dessa Atualização, participaram 26 (vinte
e seis) IES Privadas respondentes oriundas de 9 Estados de 4 regiões
do País.
A
redução do número de respondentes foi conseqüência,
de acordo com depoimentos tomados pela Consultoria, do acúmulo
de trabalho das IES no período, decorrente, sobretudo, do
atendimento às exigências do PROUNI. Mas, mesmo assim,
os novos números representam um excelente parâmetro
do quadro evolutivo dessas informações.
Além
do relatório estatístico já encaminhado para
as IES, elaborou-se um relatório analítico que agrega
as principais respostas de cada conjunto de questões de cada
pesquisa, partindo dos achados mais relevantes – considerados
pela Lobo & Associados –, para uma visão panorâmica
dos dados e indicadores das instituições, cujo resumo
do conteúdo é apresentado pelos professores Roberto
Leal Lobo e Maria Beatriz Lobo, sócios-diretores da Consultoria
nessa entrevista ao Terceiro Grau:
Terceiro
Grau: Quais os principais achados dessa atualização
das pesquisas da L&A? As IES cresceram nesse período?
Professora
Maria Beatriz: Quando comparamos as mesmas IES que responderam as
pesquisas de 2003 e 2004, verificamos um aumento no número
de alunos de graduação na ordem de 5,13%. Em 2002,
34,7% das IES pesquisadas não possuíam cursos na área
de Exatas, contra 26,92% em 2004. Da mesma forma, em 2002, apenas
6,1% das IES respondentes não tinham cursos na área
de Humanas, sendo que, em 2004, todas as respondentes passaram a
oferecer cursos nessa área. A área de Biomédicas
cresceu mais que a de Exatas, pois em 2002, 55,1% das IES não
apresentavam cursos nessa área e em 2004, esse percentual
desceu para 42,31% das IES. Se, por um lado, isso significa um aumento
do número total de alunos, garantindo uma massa de receitas,
por outro há uma pulverização de estudantes
por mais cursos, e, provavelmente, uma pressão no aumento
de despesas e diminuição de resultado líquido
por curso.
TG:
Então a situação das receitas melhorou? Afinal,
quanto mais alunos, maior o tamanho da receita!
Professor
Roberto Lobo: A comparação das pesquisas de 2002 e
2004 permite inferir várias estratégias e soluções
tomadas pelas IES respondentes, em relação ao financiamento
de alunos e ao controle de inadimplência. Houve um aumento
da renda mensal familiar do estudante que pode ser explicada por
dois fatores: melhoria geral da renda nacional e aumento dos cursos
das áreas mais caras, ou seja, Exatas e Biomédicas,
que também atraem jovens de melhor poder aquisitivo. Vários
tipos de incentivos existentes em relação ao financiamento
dos alunos de graduação também cresceram. Não
é verdade que sempre que se têm mais alunos o total
de receitas é maior. Para manter ou aumentar o número
de estudantes, as IES optaram por oferecer mais descontos. A prática
mais comum pareceu ser a de dar mais bolsas, mas de menor percentagem
em relação à mensalidade, atendendo a um número
maior de alunos, aumentando-se os incentivos para pagamentos integrais
e o desconto para irmãos.
Maria
Beatriz: A ampliação das fontes de financiamento também
pode ser verificada, apesar de ainda ser tímida, pois mais
IES estão procurando encontrar entidades parceiras que se
responsabilizem por parte das mensalidades, mesmo que isso ainda
represente uma pequena fatia da receita com mensalidades. A inadimplência
vem diminuindo, assim como o índice de estudantes que não
negociam seus débitos por ocasião da matrícula,
em parte, provavelmente, como decorrência da melhoria da situação
econômica do País e das iniciativas de busca de financiamento
ou de incentivos, mas de outra parte, pela própria atividade
de cobrança pelas IES.
Muitos
não entendem que a inadimplência no setor privado não
é um problema primordial para o montante de receitas arrecadado,
mas crucial para o fluxo de caixa, que pode se transformar em um
terremoto para as finanças da IES, caso não haja uma
adaptação de seus pagamentos ou melhoria nas condições
para tomar dinheiro no mercado financeiro.
TG:
Como fica a evolução do corpo docente dessas IES que
cresceram e ampliaram seus cursos?
Maria
Beatriz: Assim como no caso da inadimplência, os dados comparativos
de 2003 e 2004 permitem perceber várias tendências,
confirmadas com os nossos clientes: em geral, é clara a tendência
de “enxugamento”, ou restrições nos gastos,
com o corpo docente, mas muito ainda deveria ser feito. Isso pode
ser percebido em relação à limitação
da folha docente em relação aos gastos totais, à
diminuição de docentes com incentivo para capacitação,
ao aumento do número de horistas, à diminuição
dos valores médios de hora-aula e dos valores máximos
pagos por titulação, à diminuição,
também, da média percentual da soma de mestres e doutores
(desvalorização importante dos mestres em regime horista
e em regime de tempo parcial das IES menores e aumento dos mestres
nas instituições maiores, substituindo doutores no
regime horista), ao aumento percentual dos professores especialistas
e da diferença entre titulações maiores e menores,
a maior concentração de regimes especiais para professores
doutores, a maior concentração de aulas por docente,
à diminuição dos adicionais sobre hora/aula
e forte diminuição de docentes em tempo parcial, com
aumento de docentes em TI (que tiveram diminuição
nos Centros Universitários).
Roberto
Lobo: Essa contenção não se deu, praticamente,
em atividades e regimes que contemplem áreas complementares
à docência em sala de aula, como pesquisa e administração
acadêmica, mas menos ainda em extensão, que teve um
aumento maior de docentes recebendo para realizar essas atividades.
O corte foi dado nas horas de aula (ou por enxugamento curricular,
ou por diminuição das divisões de turma) e
no valor da hora/aula (ou por diminuição do valor
inicial da carreira, ou por simples redução do valor
de todas as horas, não sabemos se devidamente negociadas).
A substituição de doutores por mestres e de ambos
por especialistas para as horas de aula foi quase uma regra geral.
Mesmo
assim, quase metade das IES em 2004 gastou mais que o limite indicado
com o corpo docente, sobrando muito pouco para custeio, investimentos,
reservas e resultados. Não é por acaso que, atualmente,
uma das maiores demandas da Consultoria Lobo & Associados tem
sido a análise de gastos e a revisão das carreiras
docentes das IES que perceberam não ser mais possível
manter os gastos e incentivos da época da expansão
e da baixa concorrência.
TG:
Como está o desempenho das IES na área financeira,
número de funcionários, gastos, receitas?
Maria
Beatriz: Cresceu o número médio absoluto de docentes
e funcionários por IES. É possível inferir
que o aumento do número médio de professores e funcionários
se deve ao aumento do número de cursos por IES. Porém,
como os gastos com docentes diminuíram e os gastos com funcionários
aumentaram, o maior aumento foi o de funcionários, provavelmente
acima do que a expansão de cursos exigia, ou pelo aumento
do número de campi de algumas IES, o que impacta mais os
funcionários que os docentes, porque se percebeu um aumento
em áreas em que isso se concentrou, como obras, manutenção
e segurança, típicas de expansão.
Houve
diminuição do gasto com terceirizados e aumento do
número médio de funcionários terceirizados,
representando salários médios menores por funcionário,
redução típica de mudança no tipo de
terceirização, ou de renegociação de
contratos. A Atualização traz os dados sobre salários
médios de 42 funções administrativas.
Roberto
Lobo: É importante notar que, do mesmo modo que o gasto com
docentes ainda não está adequado, na maioria das IES
pesquisadas, aos parâmetros recomendados, em quase todas as
respondentes, o gasto com pessoal (sem docentes) subiu: passou da
média de 19,41% em 2003 para 26,39% em 2004 das despesas
da IES. Se somados aos docentes, os gastos com folha elevaram-se,
em média, para o total de mais de 80% das despesas da IES.
Não
é à toa que os gastos com setores de Biblioteca, Informática
e Multimídia/EAD/outros caíram.
Um
dado preocupante, levantado na Atualização dos Dados
da pesquisa, foi a manutenção da alta concentração
de receitas originárias de uma única fonte, o aluno,
via mensalidade ou outras formas de cobrança, um perigo que
estava sendo reduzido apenas em algumas IES comunitárias,
por meio da captação de receitas da extensão,
prestação de serviços, provavelmente, devido
à política de relacionamento com seu entorno, enfoque
em seu caráter comunitário e capacidade acadêmica,
mas que em 2004 diminuiu significativamente.
A
captação com pesquisa aumentou sua participação
percentual, mas continua insignificante e todos os outros tipos
de receita perderam participação (principalmente as
receitas financeiras, além das doações e da
extensão). São as “outras” receitas (aluguéis,
produtos etc.) que estão tendo alguma compensação,
desviando, talvez, o foco das instituições de Ensino
Superior de sua missão.
TG:
Quais os caminhos que as IES devem adotar para melhorar esses indicadores?
Roberto
Lobo: São vários os exemplos que demonstram o caminho
dessas mudanças, que passam pelo modelo de IES empreendedora,
que como sempre afirmamos, exige uma avaliação eficaz,
um projeto/planejamento bem estruturado, conhecimento específico
e a atração de lideranças que possam desenvolvê-lo.
Maria Beatriz: Para isso, as IES terão de investir na melhoria
da gestão, nas ferramentas de medição de produtividade
e nos Sistemas de Informações Gerenciais. Aí,
não falamos somente dos sistemas, mas de melhorar o monitoramento
de dados, informações e estatísticas, de indicadores.
Por isso, também, que a Lobo & Associados investiu no
SIGAMES 2, Serviço de Informações Gerenciais
para Acompanhamento de Macroindicadores do Ensino Superior e realiza
essas pesquisas, para poder acompanhar esses dados. |